cover
Tocando Agora:

Vanessa Moreno doma o ritmo, em show no Rio, com a musicalidade livre e exuberante que a agiganta no palco

Artista se sente em casa ao receber Joyce Moreno na excelente apresentação que arrematou a vitoriosa primeira temporada carioca da cantora paulista. Vanessa M...

Vanessa Moreno doma o ritmo, em show no Rio, com a musicalidade livre e exuberante que a agiganta no palco
Vanessa Moreno doma o ritmo, em show no Rio, com a musicalidade livre e exuberante que a agiganta no palco (Foto: Reprodução)

Artista se sente em casa ao receber Joyce Moreno na excelente apresentação que arrematou a vitoriosa primeira temporada carioca da cantora paulista. Vanessa Moreno conquista o público carioca com temporada de quatro shows no projeto ‘Terças no Ipanema’ Rodrigo Goffredo ♫ OPINIÃO SOBRE SHOW Título: Vanessa Moreno Artista: Vanessa Moreno Data e local: 29 de abril de 2025 no Teatro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ) Cotação: ★ ★ ★ ★ ★ ♬ Disse muito sobre Vanessa Moreno o fato de a cantora ter incluído músicas de Djavan e Rosa Passos no roteiro do último dos quatro shows feitos pela artista paulista ao longo do mês de abril na série Terças no Ipanema – bem-sucedido projeto criado por Flávia Souza Lima para ocupar com música as terças-feiras do Teatro Ipanema, palco importante na história da cultura carioca. Como Djavan e como Rosa Passos, Vanessa Moreno sabe balançar as estruturas do ritmo, domado pela cantora, compositora e instrumentista com musicalidade exuberante. Essa musicalidade livre agigantou Vanessa em cena e deslumbrou o público que encheu o Teatro Ipanema na noite de terça-feira, 29 de abril, para assistir à apresentação em que a anfitriã teve como convidada Joyce Moreno, outra eximia domadora de ritmo. A temporada serviu para revelar para o público da cidade do Rio de Janeiro (RJ) essa artista já conhecida em nichos antenados de São Paulo (SP) e celebrada por nomes nacionais como Edu Lobo e João Bosco. Nascida em dezembro de 1986 em São Bernardo do Campo (SP), a artista paulista se iniciou na música aos 15 anos, através do violão. Ao longo dos anos 2010, Vanessa firmou parcerias em discos e shows com instrumentistas como o baixista Fi Maróstica e o pianista Salomão Soares. Em 2017, a artista lançou o primeiro álbum solo, Em movimento, ao qual se seguiu Solar em 2023, ano em que a cantora começou a atrair mais atenções por ter integrado o time de intérpretes convidados por Edu Lobo para participar do disco e do show comemorativos dos 80 anos de vida do artista carioca. A série de shows no Terças no Ipanema flagrou Vanessa Moreno nesse momento de expansão de público e, verdade seja dita, a artista superou as já altas expectativas no palco dividido com o violonista baiano Tarcísio Santos, também ele um músico de alta qualidade. Vanessa Moreno divide o palco do Teatro Ipanema com Joyce Moreno Rodrigo Goffredo Como cada um dos quatro shows foi idealizado por Vanessa de acordo com o convidado da noite, a artista abriu o roteiro com medley com três músicas gravadas por Joyce Moreno no álbum divisor de águas Feminina (1980). Essa mulher (canção letrada por Ana Terra e lançada por Elis Regina em 1979) foi levada por Vanessa nos vocalizes e antecedeu o tema instrumental Aldeia de Ogum no número encerrado com o canto suave da canção Clareana, hit de Joyce em festival da TV Globo. O que se seguiu foi um show de ritmo. Vanessa Moreno remodelou os tons de Azul (Djavan, 1982), regulou a temperatura amena de Verão (Rosa Passos e Fernando de Oliveira, 1996), fez Flor de ir embora (Fátima Guedes, 1990) desabrochar com cores vivas e apresentou parceria ainda inédita com Ceumar, Ê, menina, dança, com movimentos coreográficos que realçaram as intenções da música. Ficou evidente no show que, na música de Vanessa Moreno, o ritmo pulsava além do canto e do violão, abarcando também o toque percussivo do próprio corpo da artista e do manuseio do que pareceu ser um plástico bolha. Foi como se a música saísse de todos os poros e da alma da artista em números como Zimbadoguê (2023), parceria de Vanessa com Dani Gurgel. Até o rei do ritmo Jackson do Pandeiro (1919 – 1982) se espantaria de ver e ouvir Vanessa xaxando no coco Sebastiana (Rosil Cavalcanti, 1953) ou plantando Bananeira (João Donato e Gilberto Gil, 1975) de improviso no roteiro, com modulações na voz que criaram o efeito de que a música era cantada por vários intérpretes em diálogos sagazes. Vanessa Moreno caiu no suingue com rara destreza, mas nem por isso a limpidez do canto ficou abafada. Com ênfase na melodia inebriante, a lembrança de Nasci para sonhar e cantar (Ivone Lara e Delcio Carvalho, 1982) mostrou que Vanessa sabe quando pode e quando não pode brincar com o ritmo, impressão confirmada com o sedutor canto a capella de Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983). Entre essas duas músicas, Vanessa reviveu Mercador de siri (1990), preparando o clima para a entrada de Joyce Moreno, que já gravou essa música no álbum Rio-Bahia (2006), dividido pela artista com Dori Caymmi, parceiro de Paulo César Pinheiro no tema lançado em disco pelo próprio Dori. Com Joyce Moreno, Vanessa Moreno se sentiu em casa, em família musical, embora inexista parentesco com a convidada. Mais do que mãe e filha na música, as artistas pareceram irmãs quando caíram serelepes no samba Adeus, América (Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa, 1948), lançado pelo grupo Os Cariocas, porém já mais associado ao canto lapidar de João Gilberto (1931 – 2019), outro rei do ritmo. Com Joyce Moreno na voz e no violão, Vanessa reviveu a canção Mistérios (Joyce Moreno e Maurício Maestro, 1978), relembrou as lições naturalistas de Monsieur Binot (Joyce Moreno, 1981) e sublinhou o espírito feminino do show com o canto do Samba de mulher (1995), parceria de Joyce com Léa Freire. Guardado para o bis, com Joyce já de volta ao palco, o samba Feminina reforçou esse traço ideológico da apresentação em que Vanessa Moreno espalhou Lança perfume (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1980) com aroma próprio antes de interagir com a plateia no canto de Solar, autoral tema-título do segundo e por ora último álbum solo da artista. Lança perfume deixou no ar a sensação recorrente desde o início da apresentação. A ótima impressão – aliás, a certeza – de que essa mulher ainda pouco ouvida em âmbito nacional, essa senhora cantora de 38 anos, tira o pó das canções mais batidas e acha tudo natural. Porque é mesmo. No palco do Teatro Ipanema, ficou claro que a extraordinária musicalidade de Vanessa Moreno é mesmo da natureza da artista. Vanessa Moreno é cantora, compositora e instrumentista paulista, nascida em dezembro de 1986 Rodrigo Goffredo